Mobilidade: a grande mudança de paradigma computacional

No início do mês o TechCrunch anunciou que, segundo um estudo, o uso de internet móvel ultrapassou a internet no desktop pela primeira vez. E esta evolução da mobilidade está claramente documentada no gráfico aí em abaixo.

Internet Usage Worldwide

Dois coelhos morrem com estas estatísticas: Microsoft Windows e o Flash.

Caem juntos por que andaram a vida toda de mãos dadas. O Flash sempre foi muito amigável com a plataforma Windows em desktops. Em qualquer outra plataforma ele rodava em vias tortas. O Flash ficou preponderante meramente mais pelo monopólio de plataformas computacionais do que pelo conteúdo que publicava. Se o conteúdo fosse crucial, bom, gente muito boa o faria rodar em toda parte.

Pensou-se que com o avanço avassalador do consumo de vídeo sob HTTP, o Flash teria sobrevida. Mas persistia o problema de rodar em plataformas diversas. O primeiro grande smartphone do mercado, Nokia N95, rodava Flash no já moribundo Real Player. Alias, o Real Player foi um grande player (rodava SMiL, o que seria a multimídia da internet), mas cometeu o mortal erro de surgir cedo demais. SMiL foi varrida para debaixo do carpete, outro formato precoce. Hoje há mais preocupação em adotar HTML5 com um bom suporte para interações multimídia. HTML5, por fim, não é um formato para desktops. É um formato para mobilidade, o novo paradigma da computação.

Esta é a segunda grande mudança de paradigma computacional. O primeiro, foi o pessoal: computadores abandonaram CPDs e entraram nos lares. Esta segunda, a computação, já pessoal, agora é móvel. HTML5 ou touchscreen não são mudanças de paradigmas, são características deste paradigma de mobilidade.

Qual será a terceira mudança de paradigma? Podemos especular, mas o grande erro seria apostar em qual. A computação tem o hábito de castigar quem não surge no momento exato. Nos anos 90 e início dos 00, uma das maiores concentração de tráfego de vídeo estava nas mãos do Quicktime da Apple. No site da Apple, alias, tinha o “Trailer Park”, aonde os trailers dos mais esperados filmes eram lançados. Ninguém mais se lembra disto. Exceto se você edita vídeos, mal sabe o que é Quicktime. Curiosamente, o Quicktime tinha recursos fabulosos para a web. Por exemplo, rodar conteúdo em janelas pop-up “recortadas” – digamos que você quisesse rodar uma janela redonda, flutuante e pop-up. Quicktime permita esta possibilidade. E de quebra, rodar Flash dentro. Quem usou o recurso, está hoje offline. Não vingou. Talvez porque o Quicktime não andasse, na época, de mãos dadas com o sistema operacional que monopolizava o mercado.

Posso especular qual será o novo paradigma: Os assistentes, tais como Apple Siri, “Ok Google” e Amazon Alexa, já presentes ao nosso alcance. Eles finalmente trazem o que afinal de contas, era o motivo pela qual a web foi criada e deveria ser: um assistente digital. Ele navega, não mais você.

Ontem, uma empresa chamada Bragi anunciou uma nova versão para o seu Dash – um fone de ouvido bluetooth. Ele faz o básico: conecta no celular e você ouve música ou responde chamadas. Há alguns sensores no “dispositivinho”. Na atualização, agora seus acelerômetros identificam quando você dá um toque duplo no seu osso acima da bochecha. Assim aciona o assistente do seu celular. Você dá o comando e ele responde o que você precisa. Sem tirar o celular do bolso. Com smartwatches, já estávamos tirando menos o celular do bolso. Especulando, a terceira mudança de paradigma da computação é dispensarmos monitores, que nos acompanha deste os tubos catódicos.

Fones da Bragi. Fonte: The Verge
Fones da Bragi. Fonte: The Verge

Amazon entrou na era dos assistentes sem tela pelo Alexa. O último grande anúncio da Apple foi um correspondente, um mês depois que o Google o fez o seu. E a Microsoft? Até ela, costumeiramente tardia, já está presente com o seu Kinect no Xbox que responde a comando de voz, e de quebra lê movimentos, coisa que os demais concorrentes ainda engatinham.

Voltando da primeira para a segunda mudança de paradigma, Windows perde mas não pelas mãos do Linux, como se apregoava deste os anos 90. Bom, em parte sim, já que há código baseado nele no iOS e Android. Este são os vencedores que se erguem do rescaldo do Windows. Mas Linux no desktop não teve grandes expansões como se jurava que haveria. Continua reinando, entre gente que assiste “Mr. Robot” e aponta falhas.

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